Antão do Deserto: conselhos para a vida cristã

Depois de alguns dias, voltou para a montanha. Daí em diante muitos visitantes e doentes foram a ele. Sempre exortava todos os monges que lá iam, e eis o que lhes recomendava: crer no Senhor e amá-lo, guardar-se dos pensamentos impuros e dos prazeres carnais, e, como está escrito no livro dos Provérbios (Pr 24,15), não deixar-se desviar por um ventre saciado, fugir da vanglória e orar sem cessar, salmodiar antes de deitar e ao levantar, imprimir (na alma) os preceitos das Escrituras e lembrar-se das ações dos santos, para pôr em uníssono com seu zelo uma alma sempre atenta aos mandamentos divinos. Aconselhava sobretudo a meditar continuamente na palavra do apóstolo: 'Não se ponha o sol sobre a vossa ira' (Ef 4,26). Devemos pensar, explicava, que isso se aplica a todos os mandamentos. O sol não deve pôr-se sobre a vossa ira, nem sobre nenhuma falta. É belo e necessário que o sol não nos condene por um pecado do dia, nem a lua por um pecado ou pensamento da noite. Para nos fazer entender e guardar essa palavra, o apóstolo diz: 'Julgai e provai a vós mesmos' (2Cor 13,5). Que cada um pense em suas ações do dia e da noite: se pecou, cesse de pecar; se não pecou, não se glorie, mas persevere no bem; não descuide de si e não condene o próximo, nem se justifique até que, como diz o bem-aventurado apóstolo Paulo, venha o Senhor, o qual julga as coisas ocultas (1Cor 4,5; Rm 2,16).

(...) Eis o que prescrevia a seus visitantes. Compadecia-se dos que sofriam e com eles orava. Em muitos casos o Senhor o ouviu: atendido, ele não se gloriava; não atendido, não murmurava. Sempre dava graças ao Senhor. Exortava os doentes a terem ânimo e lhes lembrava que curar não pertence a ele nem a ninguém, mas está reservado a Deus, que o faz quando quer e a quem quer. Como a cura, os doentes recebiam também as palavras do ancião e aprendiam a não se abandonarem (ao desespero), mas se encorajavam; os curados aprendiam a dar graças, não a Antão, mas a Deus somente (Vida e Conduta de Santo Antão, III, 55-56, escrito por Atanásio de Alexandria).