Gregório de Nissa: o vício não é tão forte que possa ultrapassar a força do bem

Mas o vício não é tão forte que possa ultrapassar a força do bem, nem a inconstância da nossa natureza é melhor e mais firme que a sabedoria de Deus. De fato, não é possível que aquilo que se move e muda seja mais forte e estável que Aquele que, estabelecido no bem, é sempre idêntico a si mesmo. Enquanto a vontade divina sempre e em todo lugar tem a imobilidade, a nossa natureza móvel não permanece fixa nem mesmo no mal.

Se é em direção ao bem que o movimento perpétuo arrasta um ser, por causa da infinitude de seu desejo, este movimento não cessará de levá-lo adiante, pois jamais atingirá o limite do objeto que procura e cuja apreensão lhe permitirá deter-se no caminho. Mas se tende ao termo oposto, quando tenha cumprido a marcha no mal e tenha chegado ao seu cume, então o movimento perpétuo do impulso não encontrando nenhuma possibilidade de deter-se por parte da natureza, no fim de todo este percurso no caminho do mal, necessariamente se volta para o movimento em direção ao bem. Pois o vício não pode ir até o ilimitado, mas encerrado em limites necessários, é lógico que o confim do mal tenha atrás a sucessão do bem.

E assim como se disse, a nossa natureza sempre em movimento se volta no final ao bom caminho pela memória das desventuras passadas, que torna sábios para não cair nos mesmos erros. E a nossa marcha retomará no bem, porque a natureza do mal está encerrada dentro de limites necessários. [...] Quando tivermos transposto o limite do mal, chegaremos ao cume da sombra formada pelo pecado, novamente estabeleceremos nossa vida na luz, pois a natureza do bem comparada à extensão do mal supera infinitamente todos os limites. De novo, conheceremos o Paraíso, novamente, conheceremos esta árvore, que é a árvore da vida. Novamente, a beleza da imagem e nossa dignidade do início. Não me parece que se trate de nenhuma das coisas que pelas necessidades da vida foram submetidas por Deus aos homens, mas da esperança de um outro reino que a linguagem humana permanece na impossibilidade de descrever (A Criação do Homem, XXI)